Pro-cras-ti-na-ção (substantivo do latim procrastinatio, -onis): ato de postergar ou adiar algo.Quem imaginaria que, depois de décadas de luta contra a procrastinação, o dicionário, entre todas as outras coisas, daria a solução.
Evitar a procrastinação. Isso é tão elegante em sua simplicidade.
Enquanto estamos aqui, vamos também garantir que os obesos evitem excessos, que os deprimidos evitem a apatia, e alguém por favor informe às baleias encalhadas que elas deveriam evitar ficar fora do mar.
Não, “evitar a procrastinação” é um bom conselho só para os falsos procrastinadores, aqueles que dizem “eu me distraio totalmente no Facebook algumas vezes durante o trabalho, como sou procrastinador!”, as mesmas pessoas que diriam a um verdadeiro procrastinador algo como “ah, é só não procrastinar que você vai ficar bem!”.
O que nem o dicionário nem os falsos procrastinadores entendem é que para um verdadeiro procrastinador a procrastinação não é opcional: é algo com o qual não se sabe como lidar.
Na faculdade, a liberdade desenfreada e repentina foi um desastre para mim – eu não fiz nada, nunca, por qualquer motivo. A única exceção é que eu tinha que entregar trabalhos de tempos em tempos. Eu os fazia na noite anterior, até que percebi que poderia fazê-los de madrugada, e assim foi até que me dei conta de que poderia começar a fazê-los no início da manhã do dia em que deviam ser entregues.
Mesmo para o procrastinador que não consegue, eventualmente, fazer as coisas e continuar a ser um membro competente da sociedade, algo precisa mudar. E aqui estão as principais razões para isso:
1) É desagradável. Tempo precioso demais é desperdiçado agonizando no Playground das Trevas, tempo que poderia ter sido gasto usufruindo de um lazer satisfatório e bem merecido se as coisas tivessem sido feitas em um cronograma mais lógico. E pânico não é divertido para ninguém.
2) O procrastinador, em última instância, não se valoriza. Ele acaba realizando menos e falha em alcançar seu potencial, o que o corrói ao longo do tempo e o enche de arrependimento e auto-recriminação.
3) Os Preciso-Fazer podem acontecer, mas não os Quero-Fazer. Mesmo se o procrastinador está no tipo de profissão em que o Monstro do Pânico está regularmente presente e ele consegue cumprir suas metas no trabalho, as outras coisas da vida que são importantes para ele – entrar em forma, cozinhar refeições mais elaboradas, aprender a tocar violão, leituras ou mesmo fazer uma ousada mudança em sua carreira – jamais acontecem pois o Monstro do Pânico de regra não se mete nessas coisas.
Realizações como essa expandem nossa experiência, tornam nossa vida mais rica e nos trazem um bocado de felicidade – e para a maioria dos procrastinadores elas são guardadas na gaveta.
O problema do procrastinador é profundo, e para ele mudar é necessário algo mais do que “ser mais disciplinado” ou “mudar seus maus hábitos” – a raiz do problema está vinculada a seu Enredo, e seu Enredo é o que ele precisa mudar.
1) Tente internalizar o fato de que tudo o que você faz é uma escolha.
2) Invente métodos para ajudar a derrotar o macaco.
Peça ajuda externa, explicando a um ou mais amigos ou familiares o objetivo que você está tentando alcançar, e peça a eles que mantenham você compromissado. Simplesmente digitar seu objetivo e mandar para uma pessoa real tornará a meta mais real (alguns especialistas argumentam que dizer a pessoas de sua vida sobre uma meta pode ser contraprodutivo, então isso depende da situação particular).
Se você está tentando escrever de forma consistente em um blog, coloque “publico um novo post todas as Quintas” no topo de sua página principal.
Deixe recados para você mesmo, lembrando que deve fazer boas escolhas.
Coloque um alarme para lembrar do início de uma tarefa, ou para recordar o que está em jogo.
Minimize as distrações de todas as formas possíveis. Se a TV é um sério problema, venda sua TV. Se a internet é um sério problema, arrume um segundo computador cujo Wifi está desabilitado, e coloque seu telemóvel no Modo Avião durante as sessões de trabalho.
Crie um caminho sem volta para você, como fazer um depósito não restituível para aulas ou mensalidade em um curso.
E se os métodos que você estabeleceu não estiverem funcionando, mude-os. Coloque um lembrete mensal que diz “A coisas melhoraram? Se não melhoraram, mude seus métodos”.
3) Foque no progresso lento e consistente – livros são escritos uma página por vez.
Da mesma forma que grandiosas realizações ocorrem pequeno tijolo por pequeno tijolo, um hábito profundamente arraigado como a procrastinação não muda de uma hora para outra, mas sim com uma modesta melhora por vez. Lembre-se, tudo isso tem a ver com mostrar a si mesmo o que você pode realizar, então o segredo não é ser perfeito, mas simplesmente melhorar. O autor que escreve uma página por dia escreve um livro após um ano. O procrastinador que melhora um pouco a cada semana é uma pessoa totalmente transformada um ano depois.
Portanto não pense sobre ir de A até Z – apenas comece de A até B. Mude o Roteiro de “eu procrastino em cada tarefa que faço” para “uma vez por semana eu cumpro uma tarefa sem procrastinar”. Se você puder fazer isso, você criará uma tendência.
Eu ainda sou um miserável procrastinador, mas definitivamente estou melhor do que estava um ano atrás, então me sinto esperançoso sobre o futuro.