Ninguém esperará que um jovem com 20 anos ou recém-formado, no caso de estar a completar os seus estudos, seja forçado a prestar serviço militar obrigatório para além de doze meses, (no meu tempo dos anos 70, eram 36 meses, um absurdo), mas tendo como base os dados divulgados pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas, em 2024 houve 9843 candidatos às vagas dos três ramos das FFAA — Exército, Força Aérea e Marinha —, mais 33,8% que no ano anterior. Mas isto não significa que os lugares tenham sido ocupados: em 2023, havia quatro vezes mais candidatos que lugares, mas mais de metade dos concorrentes faltaram às provas de acesso ou desistiram.
Pelo rumo que a situação aparenta seguir, chegar aos 32.000, o número ideal de soldados de acordo com o entendimento do Ministério de Defesa Nacional, só será viável com uma substancial melhoria das condições de trabalho actuais.
Um documento recente do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas mostra-nos a evolução dos efectivos militares desde 2016 a Fevereiro de 2025. É à luz destes números oficiais que se podem comentar as sucessivas declarações do Ministro da Defesa, Nuno Melo, sobre o que garante ser o sucesso das medidas já tomadas por este governo. A diferença entre o número de militares em 2023 e Fevereiro de 2025 são ridículas: mais 89 militares num universo de 23.000. O Exército aumentou no mesmo período 167 militares (+1,52%); a Marinha perdeu 191 (-2,79%); a Força Aérea aumentou 113 militares (+1,94%).
Quem anda por estas bandas, (falo das redes sociais), já reparou certamente nos constantes apelos para os jovens seguirem a carreira militar, ou pelo menos nela ingressarem temporariamente. Da Marinha, da Força Área e do Exército, as propostas têm uma cadência quase semanal.
Tanto quanto me é dado saber, um recruta das Forças Armadas começa por receber 878,41 euros mensais durante a sua formação, que pode durar vários meses, dependendo da especialidade. Quando terminam a formação, os recrutas passam ao posto de soldado, no Exército e na Força Aérea, e ao de segundo-grumete na Marinha, com um salário base de 926,42 euros, a que se soma o suplemento de condição de militar, no valor de 542,28 euros, num total de 1468,7 euros brutos, julgo não estar longe da realidade!
“A tendência do recrutamento e a capacidade de retenção dos militares nos três ramos das FFAA está diretamente relacionada com a valorização da condição militar e com o retorno que tem nas suas opções de vida, razão pela qual definimos no início da legislatura, há 11 meses, as pessoas como a primeira prioridade”, segundo afirmação de Nuno Melo, Ministro da Defesa.
A Alemanha, que eliminou o serviço militar obrigatório em 2011, tem visto um envelhecimento das Forças Armadas, pelo que está agora a registar uma discussão renovada sobre se se deve reintroduzir algum sistema de serviço militar obrigatório a nível nacional.
Segundo os dados de vários países, em França o tempo médio que os militares permanecem em serviço “encolheu” em um ano. No Reino Unido, há um défice anual de contratação de soldados e nem o recurso a empresas privadas responde às necessidades.
Na Polónia, o Governo anunciou aumentos salariais para os militares, em cerca de 30%, de forma a tentar reter as tropas. Passa o mínimo mensal para um soldado de 4960 zlotys (1150 euros) para 6000 zlotys (1387 euros).
Serviço militar obrigatório, mesmo que seja curto, só beneficiaria no meu entendimento, o conceito de disciplina que me parece tanto falta nos jovens de hoje. Percebo a resistência, entendo a relutância, mas se houver dignificação na carreira, com compensações apelativas, mesmo que seja por um curto período de tempo, nunca inferior a um ano, creio que seria benéfico para a sociedade em geral e para os jovens em particular!